Questionada por Mário Kertész sobre qual teria sido o maior erro da sua gestão, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) não hesitou em responder: “O erro mais óbvio que cometi foi a aliança que fiz para levar a presidência nesse segundo mandato com uma pessoa que explicitamente, diante do país inteiro, tomou atitudes de traição e usurpação”, disse, nesta terça-feira (28), sobre o presidente interino Michel Temer (PMDB). “Claro que não é uma questão pessoal. Não acho que o vice-presidente representa a si mesmo. O grupo que ele representa, e o encontro com Eduardo Cunha [no último domingo] mostra isso, é um grupo político. E eu errei em fazer aliança com esse grupo político”, completou.
Papel do PMDB
Citando ainda uma “resistência democrática” no pós-ditadura, a petista reconheceu a importância do PMDB na história política do país. “Em 1988, um pacto democrático foi feito no Brasil. E eram forças que se uniram em torno da reconstrução do país nesse âmbito da democracia. O que se chama presidencialismo de coalizão são essas alianças com o centro democrático construídas por quem assume a presidência. O que aconteceu é que, nos últimos anos, a partir da metade do meu primeiro mandato, esse centro democrático passa a ter um domínio de direita conservadora. O que é Eduardo Cunha? É ele construindo uma aliança de pequenos partidos de centro-direita, cada vez mais direita e manos de centro. E neste partido, que é amplo, porque nem todos os parlamentares do PMDB estão nessa condição, ele hegemoniza uma grande corrente dentro do parlamento e faz alianças com vários segmentos. É esta a base política que vai levar ao impeachment. É uma pauta absolutamente conservadora, como estamos vendo nesses parcos 45 dias do governo provisório, um crescente avanço para retirar direitos. Reduzem o Pronatec, e agora eles tão dizendo que vão exigir 70 anos para que as pessoas tenham direito à aposentadoria. É um conjunto de ações que mostra o caráter desse governo e deste grupo que hoje tomou conta”, explicou.
Influência de parte da mídia brasileira
Dilma afirmou ainda que faltou ao seu governo ser mais contundente “para denunciar a existência de um golpe” no país. “Articulado por um setor importante da mídia. Acho que as criticas feitas internacionais em relação à mídia brasileira são procedentes. Articulado também com uma parte descontente que foi para as ruas dizendo que não queria pagar o pato [referência a uma campanha da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], e estamos vendo quem é que eles querem que pague o pato: o povo desse país, quesempre pagou o pato e teria que continuar pagando. Eu não vi [a suposta armação de um golpe] a priori. Só vi a posteriori. Não vi antes, só vi depois. Isso significa que foi uma falha. Mas não é uma insensatez, que é quando você vê na hora e não muda. Tinha de ter visto antes. Tinha de ter havido um combate mais cerrado. Mas eu jamais pensei que veria um novo processo de golpe no país”, afirmou.
“Segundo golpe”
Ao lembrar o golpe militar, Dilma disse ainda que esse é o segundo golpe enfrentado pelo Brasil, agora caracterizado pela ação de “parasitas”. “Este é parlamentar. Este se caracteriza pelo fato de em que, em que pese o impeachment estar previsto na Constituição, a Constituição diz também que para tira um presidente é preciso ter crime de responsabilidade. A própria perícia do senado mostra que o que me acusam não é algo que se sustente. Eles tiveram o cuidado de tentar impedir sistematicamente que se chamasse esse projeto de golpe, e não foram bem sucedidos, porque como a imprensa internacional não tem os mesmos compromissos das cinco famílias brasileiras [que formariam, segundo Dilma, as oligarquias que comandam a mídia do Brasil], ela nos ajudou muito a caracterizar como golpe. Existe outra conjuntura de golpe, que se caracteriza pelo golpe parlamentar, sim”, declarou.
Fonte: Metro 1
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