Após dois dias de julgamento, os três réus acusados de canibalismo em Pernambuco foram condenados à prisão, nesta sexta-feira, pelo assassinato da jovem Jéssica Camila Silva, na cidade de Olinda, em 2008. A condenação aconteceu por maioria dos votos do júri popular formado por sete pessoas. Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, considerado o mentor do grupo, foi condenado a 21 anos e 6 meses de prisão e a 1 ano e 6 meses de reclusão. Isabel Cristina da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva, que formavam com Jorge um triângulo amoroso, foram condenadas a 19 anos de reclusão e 1 ano de detenção, cada. Os advogados dos réus anunciaram que irão recorrer da decisão.
Os três acusados foram responsabilizados por matar a vítima a facadas, esquartejá-la e comer pedaços da sua carne, devido a uma seita denominada “Cartel”, criada pelo trio. A pena foi estabelecida pela juíza Maria Segundo Gomes, que considerou que os réus apresentam comportamento inadequado em sociedade. Na sentença, ela destacou a prática do canibalismo, que ganhou repercussão internacional.
– Os jurados entenderam que os réus eram culpados, depois de analisar todos os critérios de antecedentes, culpabilidade, comportamento e todas as circunstâncias. O perfil que consta nos autos é de que eles apresentam comportamento irregular na sociedade, personalidade diferenciada do cidadão comum. Ainda tem a questão do clamor público que o crime causou e a periculosidade que eles apresentam em convívio em sociedade – destacou o juíza.
A pena máxima que poderia ser aplicada aos réus seria de 30 anos de reclusão. Entretanto, a confissão do crime e a falta de antecedentes criminais foram responsáveis por atenuar a sentença.
A denúncia dos réus à Justiça foi feita pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por homicídio quadruplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e com a finalidade de assegurar a realização de outras práticas criminosas), vilipêndio (prática cometida contra o corpo de um ser humano) e ocultação de cadáver.
Para a promotora Eliane Gaia, responsável pela acusação, os réus não poderiam receber penas leves devido aos crimes com requintes de crueldade que foram detalhados. Além do crime em Olinda, eles ainda respondem a outros processos, sobre mais duas vítimas assassinadas na cidade de Garanhuns, no Agreste pernambucano, em 2012. Foi através desses crimes que a prática do grupo chegou ao conhecimento popular.
O júri não concordou com o argumento da defensora pública Tereza Joacy sobre uma possível esquizofrenia de Jorge para pedir diminuição de pena. A doença mental foi descartada através do laudo oficial. Tanto o advogado Paulo Sales, que defendeu Isabel Cristina, quanto o defensor Rômulo Lyra, representando Bruna Cristina, pediram ao júri que levasse em consideração a “coação moral irresistente” sofrida pelas duas acusadas. Para a defesa, as duas mulheres eram controladas por Jorge e não conseguiam agir de forma diferente da dele. Todos afirmaram que irão recorrer da pena. O trio seguiu para unidades prisionais no Grande Recife.
CRIME CRUEL E DEPOIMENTOS
O assassinato de Jéssica Camila da Silva Pereira foi o terceiro descoberto e atribuído pela Polícia pernambucana ao trio, após os restos mortais de duas mulheres terem sido encontrados, em 2012, na casa dos réus, em Garanhuns. Com os três, morava uma menina de 5 anos, filha de Jéssica Camila e que teria chegado a comer a carne da mãe.
Através da seita Cartel, as vítimas eram assassinadas com um golpe de faca no pescoço e esquartejadas. Depois do crime, uma parte do corpo era enterrada, e outra era guardada em refrigeradores para ser consumida depois como alimento normal.
O julgamento dos “Canibais de Garanhuns” foi marcado pelos detalhes relatados pelos acusados sobre os crimes que cometeram. Nos depoimentos, eles revelaram que escolhiam as vítimas para “purificar o mundo” e fazer o “controle populacional”. De acordo com a seita Cartel, mulheres que não tinham muitos filhos e não tinham condições de criá-los deveriam ser eliminadas