
O que se pode comprar com R$ 1? Se, há 20 anos, rolava acarajé, buzu e 20 big bigs, hoje, você pode pelo menos garantir um quilo de peixe fresco na mesa. No Porto da Sardinha, localizado em Plataforma, são vendidas cerca de dez toneladas do pescado por dia para pessoas de todos os cantos de Salvador. Mesmo na pandemia, não falta cliente nem peixe.
“Depois do trabalho, venho para cá comprar essa sardinha, porque compensa muito mais. Com R$ 30, eu coloco comida na mesa o mês inteiro”, conta Gilmar Alves, 55 anos, que trabalha no Subúrbio como padeiro e mora próximo da Ceasa, na CIA-Aeroporto.
A cabeleireira Rosângela Neri, 43, diz que a dieta da família é montada à base de sardinha. “Um dia ou outro que é carne, mas o principal é a sardinha, que, além de barata, é gostosa”. A qualidade do peixe é destacada por Rosemeire do Santos, 52. “Além de ser muito barato, o peixe é fresco”, relata a cozinheira, que no mercado encontra o mesmo quilo por R$ 8.
Além de barato e saboroso, o pescado tem qualidades nutricionais únicas – inclusive mais cálcio do que o leite. “A sardinha é rica em ômega 3, nutriente que é antiinflamatório e antioxidante. Ela também tem uma ótima quantidade de coenzima Q10, nutriente que ajuda na saúde das mitocôndrias (que é como um ‘gerador’ nas células) e, consequentemente, dá energia para o organismo”, explica a nutricionista Cyntia Calmon.
Pesca generosa
O preço da sardinha no porto já chegou a R$ 0,30, mas costuma permanecer no valor de R$ 1 na maior parte do ano. Segundo Israel Brito, 24, que é pescador há 10 anos, o preço do peixe é diretamente ligado à quantidade retirada do mar pelos pecadores. “Quando pescamos muito acima do normal, o preço fica em centavos mesmo. Isso porque não temos como guardar o peixe e tem que sair tudo no dia”.
Para pescar as dez toneladas/dia, os pescadores do porto contam com 18 embarcações que transportam, no mínimo, nove pescadores cada.
De acordo com Roberto Pantaleão, coordenador de estudos e pesquisas na Bahia Pesca, o Porto da Sardinha é o maior ponto de distribuição e comercialização do peixe em toda a Bahia. “Não temos estatística pesqueira no Brasil desde 2006, mas posso falar seguramente que o Porto da Sardinha é onde mais se comercializa sardinhas de maneira informal na Bahia”, relata. A sardinha ‘empacotada’ e vendida no mercado é oriunda, principalmente, de Santa Catarina.
Roberto também revela que a Baía de Todos-os-Santos tem presença significativa de sardinhas. “É um peixe tipicamente costeiro, que fica na beira da praia e é mais encontrado no verão”.
George Olavo, ocenógrafo que pesquisa a Baía de Todos os Santos, explica que, apesar da quantidade pescada no Porto da Sardinha, essa pesca, que é artesanal, não causa prejuízo ambiental. “O que prejudica a baía é a degradação de seus ecossistemas costeiros e perda de habitats naturais, a contaminação de suas águas e sedimentos, e a introdução de espécies exóticas invasoras. Isso não é causado pela pesca de pequena escala ou artesanal praticada na baía. É causada sobretudo pelo crescimento populacional e ocupação desordenada da zona costeira, intensa atividade industrial, portuária e tráfego marítimo, além da supressão de manguezais, destruição de recifes e a pesca com explosivos”, explica.
(Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Fonte: Correio da Bahia
					
					
					



