Prefeitura de Conquista determina que carroceiros coloquem ‘fraldas’ em cavalos e jumentos
Após sete anos de trabalho carregando todo tipo de carga e já próximo de ser aposentado, o cavalo ‘Tortilho’ terá de usar ‘fraldas’ por determinação da Prefeitura de Vitória da Conquista, no Sudoeste da Bahia. O equino é um dos pouco mais de mil animais que puxam veículos de tração na terceira maior cidade do estado e que a partir da segunda quinzena de maio só poderão andar de ‘fraldão’, sob o risco de serem apreendidos. Com a medida, Vitória da Conquista segue o exemplo de outras cidades turísticas na Bahia e do Brasil. Em Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro, cavalos usam ‘fraldas’ há mais de dez anos, assim como em Paquetá e Petrópolis, ambas no Rio de Janeiro. A novidade na cidade baiana foi anunciada recentemente pela administração local, comandada pelo radialista Herzem Gusmão (PMDB), eleito no ano passado. Além dos cavalos, os carroceiros e seus veículos também terão de se adaptar às novas regras, como ter ‘carteira de habilitação’ para conduzir a carroça, a qual terá de estar licenciada e emplacada, como qualquer outro veículo. A administração diz que as medidas relativas aos carroceiros, seus veículos e os bichos são para fazer valer uma lei de 2008 que visa ordenar o trânsito de veículos de tração animal.
Sem respeito : A gestão do PMDB afirma que a lei vinha sendo respeitada em parte pela gestão petista que a precedeu – no final do ano passado foram colocadas placas apenas nas 50 carroças que complementam o serviço de coleta de lixo. De acordo com a prefeitura, será dado curso de 8 horas sobre noções básicas de trânsito para os carroceiros, que depois ganharão a habilitação, sem custos – pessoas com idade inferior a 18 anos, comumente vistas guiando carroças, inclusive em ciclovias, não poderão ser habilitadas. Posteriormente, identificará as carroças com placas para facilitar a fiscalização do descarte correto de entulhos e outros materiais, já que muitos carroceiros o fazem em local não adequado, como terrenos baldios. Na cidade há oito pontos de coleta de entulho. Dono de ‘Tortilho’ há um ano, o carroceiro Zenildo de Jesus Oliveira, 34, até concorda com as placas e a habilitação, mas acha que “a moda das fraldas não vai pegar”.
“Estou mais interessado em saber o valor das fraldas. Acho que isso vai mais nos prejudicar, nos fazer ter custos, do que nos ajudar no serviço”, disse ele, que realiza o transporte de materiais diversos pela cidade.
Fraldão padronizado: De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Públicos, que está sob o comando do coronel da reserva da Polícia Militar da Bahia, Esmeraldino Correia, o cadastro das carroças com vistas ao licenciamento será iniciado nos próximos dias. A estimativa é cadastrar pouco mais de mil carroças. “A proposta é reunir a documentação necessária para o licenciamento que passa a ser obrigatório a partir da segunda quinzena de maio”, disse Correia. Já os ‘fraldões’, terão de ser colocados pelos carroceiros e seguirão um padrão estabelecido pela Secretaria. Ainda não há estimativa de quanto deve custar o ‘fraldão’. A matéria fecal dos cavalos terá que ser descartada em locais ainda a serem definidos e servirá para fazer adubo para plantas.
População opina: Catadora de papelão e outros materiais recicláveis, Jocélia Brito dos Santos, 45, que percorre de segunda a sexta, entre as 17h e às 19h, as ruas centrais da cidade, acha que as novas determinações são muito rigorosas. “Esse fraldão, mesmo, qual é o animal que vai deixar botar? E pra gente, que fica em cima da carroça, vai ter de aguentar o fedor até chegar num lugar pra jogar fora? Não acho que isso vai dar certo. Com a placa da carroça e a habilitação eu até concordo, pois vai valorizar quem trabalha na carroça”, ela disse. Já Ian Trindade, 16, que trabalha na carroça junto com a mãe, acha que “nenhum carroceiro vai parar a carroça para ficar trocando fralda de cavalo”. Sem poder ser habilitado, ele terá de parar de conduzir a carroça. “Vai ficar mais pesado para minha mãe o trabalho”, lamenta. Alguns moradores questionam as prioridades da prefeitura. Outros foram a favor das novas regras, sobretudo no que se refere ao jogar o entulho em locais adequados e punir quem não faz isso. “Se fosse uma coisa para gerar renda, ainda vai. Mas isso aí de fralda só vai trazer prejuízo. Imagine quantas fraldas serão usadas por dia e o custo delas”, comentou o feirante Edvaldo Moraes Chaves Filho, 40. “O que a cidade precisa mesmo é de segurança, de melhorias no transporte público, de tapar os buracos nas ruas. As carroças são um problema bem secundário”, opinou o vendedor de pastel e caldo de cana José Antônio Rodrigues Mendes, 51. “Quero ver quem vai fiscalizar se os cavalos que estão usando fralda ou não.” Para o comerciante Pedro Lima de Oliveira, 42, o ‘fraldão’ nos cavalos vai ajudar a manter a cidade mais limpa. “Esses cavalos, por onde vão, deixam um rastro. Ninguém merece andar por aí com essa fedentina e sujeirada toda”, declarou. Além de concordar com as ‘fraldas’, o estudante universitário Guilherme Lírio Peixoto, 25, vai mais além e pensa que os donos de cavalos que deixarem sujeiras pelas ruas deveriam ser multados. “Lá no bairro onde moro mesmo (o Jardim Valéria), as ruas vivem sujas. Sem falar nos terrenos baldios que são usados como depósito de lixo. Isso tudo tem de acabar”, falou.